ESA_logo.png                                     Recebido: 23.dez.2023   •    Aceito: 01.abr.2024   •    Publicado: 16.maio.2024

 

Entrevista  

 

 

                                                                                                                                                                                                                                        
Na contramão do memoricídio, ‘Vozes e Memórias’ de vidas talhadas com as mãos: entrevista com Maria Aparecida de Moraes Silva

Against the tide of memoricide, voices and memories of lives carved out by hand: an interview with Maria Aparecida de Moraes Silva


Entrevista concedida a

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Bruno César Pereira[1]

 

 



 

Resumo: Entrevista concedida pela Profa. Dra. Maria Aparecida de Moraes Silva, uma das principais referências da Sociologia Rural Brasileira, sobretudo nos temas acerca do trabalho e dos/as trabalhadores/as rurais, a Bruno César Pereira (Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar), em 20 de novembro de 2023. Nesta entrevista, a pesquisadora relata sua trajetória, o recém-lançado repositório Vozes e Memórias (que reúne centenas de entrevistas coletadas ao longo dos últimos 40 anos de pesquisa) e, por fim, suas recentes pesquisas acerca da Agricultura 4.0.

Palavras-chave: pesquisadores; trajetória; Agricultura 4.0; Vozes e Memórias.

 

Abstract: This interview was given by Professor Maria Aparecida de Moraes Silva, a main reference in Brazilian rural sociology and particularly topics related to work and rural workers, to Bruno César Pereira (a doctoral candidate in sociology at the Federal University of São Carlos, UFSCar) on November 20, 2023. In this interview, the researcher describes her trajectory, the recently launched Vozes e Memórias repository (which brings together hundreds of interviews collected over the last 40 years of research), and finally her recent research on Agriculture 4.0.

Keywords: researchers; trajectory; Agriculture 4.0; Voices and Memories.

 

 

Maria Aparecida de Moraes Silva, filha de pequenos sitiantes do interior de São Paulo, nasceu no município de Altinópolis e viveu parte de sua infância no mundo rural. Graduou-se em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp, campus Araraquara) em 1968. Realizou seu Mestrado (1978) e seu Doutorado (1980) em Sociologie Du Développement, ambos desenvolvidos na Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne). É livre-docente pela Unesp (1997) e, atualmente, é docente permanente do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), além de coordenar o grupo de pesquisa Terra, Trabalho, Migração e Memória (Trama).

Maria Moraes se notabiliza como uma das principais referências no Brasil no campo dos estudos da Sociologia Rural, sobretudo, dedicando-se, desde fins da década de 1970, a analisar as condições dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e as transformações do espaço rural, com destaque para a região da Grande Ribeirão Preto, nordeste do estado de São Paulo.

Nestas últimas quatro décadas, tem se empenhado com afinco à pesquisa, ao ensino e à extensão, bem como contribuiu significativamente para a formação de pesquisadoras(es) e professoras(es) que hoje se encontram lecionando em diversas instituições pelo país.

A entrevista aqui transcrita, realizada na tarde de 20 de novembro de 2023, ocorreu de modo on-line, através da Plataforma Google Meet. Maria em São Carlos, São Paulo, e eu em Cândido de Abreu, Paraná. Entre os cantos das cigarras na jabuticabeira ao lado de minha janela, que por momentos quase tornaram esta entrevista inaudível, Maria nos falou sobre sua trajetória de mais de 40 anos no campo dos estudos rurais, o uso das entrevistas como fonte principal em seus estudos e a importância da história oral.

Ponto central desta entrevista, Maria Moraes nos apresenta o repositório digital “Vozes e Memórias”,[2] que é constituído de cerca de mil horas de entrevistas realizadas no período de 1983-2017. As narrativas são de homens e mulheres, trabalhadores e trabalhadoras rurais, que labutaram nas grandes plantações em São Paulo. A proposta deste espaço, como ressalta a entrevistada, nasceu a partir de sua constatação de que, além do desaparecimento e da invisibilidade desses trabalhadores, assistimos um verdadeiro memoricídio. Na contramão deste processo de apagamento, o repositório tem como objetivo “[...] reconstruir o passado, desdobrando-o e trazendo-o ao presente, por meio das vozes silenciadas e das memórias ocultadas”.

Ainda nesta entrevista, Maria Moraes nos fala um pouco de suas pesquisas recentes acerca da chamada agricultura 4.0, caracterizada pelo emprego das grandes máquinas e também pelo domínio e controle das tecnologias de informação. E, finaliza, nos falando um pouco sobre suas “angústias intelectuais” e o lugar dos estudos sobre os trabalhadores e trabalhadoras rurais na Sociologia.

Agradeço à Maria Moraes por dividir e nos inspirar com sua trajetória.

 

 

Entrevista

Entrevistador: Boa tarde, Professora Maria Moraes. Espero que as cigarras aqui na jabuticabeira não atrapalhem muito.

Maria Moraes: Sim [risos]. Eu agradeço a oportunidade de estar conversando com você mais uma vez, sobre muitas questões, que já perpassaram outros momentos. Muito obrigada pelo convite. 

 

Entrevistador: Professora, a senhora desde fins da década de 1970, com sua pesquisa de Mestrado e Doutorado na França, tem se dedicado a pesquisar o mundo rural, sobretudo discutindo as condições dos trabalhadores e trabalhadoras e, também, as transformações do espaço rural, com destaque para o estado de São Paulo. O que levou a senhora a dedicar sua trajetória acadêmica a este campo e a estes temas de pesquisa?

Maria Moraes: Olha, vou começar dizendo o seguinte, vou lembrar de uma frase bastante repetida da Professora Heleieth Saffioti, que dizia: “não é a gente que escolhe o objeto, mas o objeto que nos escolhe”. Eu acredito que sejam as duas coisas, tanto o objeto nos escolhe como nós escolhemos o objeto. Eu penso que é uma relação bastante estreita, bastante profunda e, sobretudo, no meu caso que pesquiso uma região com muitas transformações nessas últimas décadas, transformações muito rápidas, então isso fez com que as minhas pesquisas fossem acompanhando essas transformações e essas mudanças, então é por isso que há permanência deste tema, por um lado. E, por outro, também tem a ver com a minha história de vida, eu sou da roça, eu sou do campo, eu nasci na área rural, sou filha de sitiantes paulistas, caipiras. Portanto, estar pesquisando um tema relacionado ao rural, basicamente, ao trabalhador e à trabalhadora rural me é muito intrínseco. Eu diria que não é só próximo, é uma coisa que seria uma espécie de extensão do meu corpo, da minha forma de enxergar o mundo. Não me é um objeto distanciado, eu não tenho estranhamento por esse tema, pelo contrário, tenho cada vez mais uma proximidade bastante grande com ele.

Eu comecei a pesquisar, como você mesmo lembrou, na segunda metade da década de 1970, quando fiz o meu mestrado e doutorado na França, e ali já havia o processo de transformação bastante grande, que era a passagem do colono para o boia-fria, do trabalhador rural permanente para o trabalhador temporário, residente nas periferias das cidades. Outra mudança, em especial, aqui no caso do estado de São Paulo, nesta região de Ribeirão Preto, foi a mudança na maneira de produzir, a substituição dos produtos, então não mais o café e, cada vez mais, os canaviais. Naquele momento do mestrado e do doutorado na França essas questões estavam chamando a atenção dos pesquisadores, o boia-fria estava surgindo no cenário, não somente no cenário laboral mas também no cenário político, porque as greves eram muito constantes e, ademais, os níveis de exploração da força de trabalho eram assustadores e, nesse sentido, essa categoria de trabalhadores que, até então não era conhecida, passa a ser cada vez mais reconhecida pela sua existência, pela suas condições de vida e trabalho e também pelos níveis de superexploração da força de trabalho. Eram trabalhadores submetidos a longas jornadas, eram transportados em caminhões, eles não tinham os direitos trabalhistas e os acidentes eram muito frequentes, havia muitas mortes e, em razão dos níveis de exploração, havia também muitos protestos, conflitos e greves. Foi um período bastante tenso do ponto de vista dos movimentos sociais dos trabalhadores rurais, tanto é que em 1984 eclode a chamada Greve de Guariba ou Levante de Guariba o qual, no próximo ano, completará quarenta anos, um movimento que ficou nacionalmente conhecido. Bom, o interesse pela pesquisa desse momento, particularmente, sobre os trabalhadores rurais, deu-se na confluência dessas duas situações. Primeiramente, a minha condição como filha de sitiantes, e a segunda condição refere-se ao mundo onde vivo, moro e habito; é esse mundo que estava cada vez mais em transformação, em rápida transformação. É mais ou menos isso, o começo [risos].

 

Entrevistador: Pensando nas décadas finais do século XX e nas transformações do rural paulista mencionadas pela senhora, acredito que a figura do chamado boia-fria pode ser observada como um marco de discussões. Gostaria que a senhora falasse um pouco sobre isso e também pontuasse as diferenças de como a senhora discutiu essa figura, o boia-fria, para além de sujeitos que compunham um exército de reserva.

Maria Moraes: Na verdade, existia alguns estudos que consideravam o trabalhador rural, o chamado boia-fria, como um exército de reserva, isso porque havia as plantações de cana, de café, de laranja, e esses trabalhadores chegavam, por meio de um processo de mobilidade laboral intenso, cada vez mais envolvendo maior número naquelas condições de muita precariedade e também muita vulnerabilidade. Inicialmente, foi o referencial marxista de exército de reserva o que prevalecia. Mas eu já dou um passo adiante em relação a essa discussão, mostrando que não era bem isso; eles eram trabalhadores temporários que, um pouquinho mais tarde, eu os denomino de permanentemente temporários, quer dizer, eles já nascem como temporários, eles ficam por um período e depois, quando o capital não mais precisa deles, são devolvidos aos seus locais de origem e, em seguida, novamente eles voltam. Então eu penso que não é somente um exército de reserva, porque o exército de reserva pressupõe um nível de profissão, de relação de produção, de forças produtivas e, à medida que essas forças produtivas vão se alargando, o capital necessita de mais mão de obra, então aí ele atrai essa mão de obra reserva. Não era bem isso que acontecia, o que acontecia era que eles eram usados como força de trabalho apenas em um determinado período do ano e enquanto tal, eles vão permanecer, então é diferente dessa concepção de exército de reserva, do meu ponto de vista.

Eram trabalhadores permanentemente temporários, e esse é um ponto que eu analisei em vários artigos e livros, ressaltando essa questão dos locais de origem, porque para os capitalistas era muito importante que esses trabalhadores realmente viessem de outros lugares, porque o valor da reprodução da força de trabalho deles cada vez mais era menor, uma vez que os custos maiores da reprodução dessa força de trabalho ficavam nos locais de origem e não nos locais de trabalho, esse é um ponto a ser destacado. São as mulheres que ficam, aquelas que são responsáveis pelas roças de subsistência no caso delas existirem, da reprodução dos filhos, das crianças. Portanto, em um local bem distanciado daquele que é o local de trabalho.

 

Entrevistador: Os estudos recentes da senhora realizam uma análise ampla que levam em conta diferentes marcadores sociais – como classe, gênero, raça/etnia e geração –, a senhora poderia falar um pouco sobre a importância de se trabalhar considerando estas dimensões e as complexidades derivadas de se respeitar este todo?

Maria Moraes: Essas questões foram aparecendo com o desenvolvimento de várias pesquisas. Por exemplo, na minha dissertação e tese essas questões não aparecem. O que aparece ali é somente a questão da classe social, então eu analiso o processo de transformação do colono em boia-fria, esse trabalhador permanente que tinha vínculo com a terra, que é expropriado dos seu meios de trabalho e jogado, digamos assim, nas periferias das cidades da região, mas a questão de gênero e a questão raça/etnia não aparecem, elas vão surgir um pouco mais tarde, elas surgem, por exemplo, durante os movimentos de Guariba, elas surgem durante outras greves que apareceram na região que nós pudemos seguir e, sobretudo, porque ali era bastante frequente a presença de mulheres, não somente das que cortavam a cana, que trabalhavam no eito, mas também daquelas  que participavam dos piquetes, dos protestos e, então, havia uma visibilidade bastante grande das mulheres. Por outro lado, eu também passei a observar durante um determinado tempo que muitas mulheres que trabalhavam não estavam participando dos movimentos, então nós fomos até elas e começamos a perguntar as razões delas não estarem nos piquetes, delas não estarem nos protestos, nos movimentos de protestos e, muitas vezes, elas respondiam que era em função da negativa dos maridos. Isso nos chamou bastante atenção, porque não era em função da presença ali dos olheiros e responsáveis pelo controle e disciplina da força de trabalho, eram os maridos que as proibiam de participar da luta, portanto, de ter essa participação no espaço público. E elas ficavam enclausuradas em suas casas. Essa questão me chamou bastante a atenção e aí nós começamos a pensar no gênero, e essa categoria passou a ser cada vez mais central nas pesquisas, não somente para analisar as reações de trabalho, como também para analisar a presença e a importância do trabalho dessas mulheres nos locais de origem, tanto no Vale do Jequitinhonha quanto na Paraíba, Piauí, Maranhão e na Bahia. Foi possível perceber a importância desse trabalho na esfera reprodutiva, esse trabalho do cuidado para a reprodução familiar, para a reprodução camponesa que, por outro lado, acabava favorecendo o capital, porque pagava-se um salário cada vez menor aos trabalhadores, porque o custo da reprodução social era cada vez menor. Nos chamou bastante atenção todos esses elementos.

A questão étnico/racial também foi em decorrência das próprias pesquisas, justamente quando nós passamos a observar que esses trabalhadores eram negros ou pardos, provenientes do Vale do Jequitinhonha ou dos estados do Nordeste do país. Esse marcador étnico/racial vai ser muito importante para definir muitas modificações no processo de trabalho, porque a partir da década de 1990 quando, cada vez mais, as mulheres vão sendo alijadas do corte da cana e, em contraposição, os capitalistas vão cada vez mais incentivar as migrações, então foi possível observar um processo de masculinização bastante crescente no corte manual da cana; pôde-se notar ainda a racialização do trabalho; cada vez mais o trabalho passou a ser executado por negros e pardos. Isso, como eu lhe disse, foi também ocorrendo durante as pesquisas e as transformações de todo o processo produtivo. 

É claro que isso exigiu outras leituras e bibliografias de gênero, por exemplo, além da participação em eventos relacionados a essa discussão, publicações e congressos e depois, com a questão étnico/racial, foi a mesma coisa, cada vez mais esse campo teórico foi se expandindo. Está no prelo um artigo que fará parte de uma coletânea, organizada pelo grupo do CEGet, de Geografia do Trabalho da Unesp de Presidente Prudente, em que eu faço uma discussão teórica do valor da força de trabalho, inserindo as categorias de gênero e étnico/racial, mostrando que esses elementos são constitutivos do valor da força de trabalho, estabelecendo um diálogo com Marx, com o conceito de valor de força de trabalho, exploração da força de trabalho, entendida não somente a partir do quantum de trabalho, da quantidade, mas também desses elementos que estão intrínsecos ao valor e ao preço da força de trabalho; então, se você é um trabalhador branco, o preço da sua força de trabalho é maior, se eu sou uma trabalhadora negra, o preço da minha força de trabalho será menor, embora, muitas vezes, o quantum seja o mesmo.

 

Entrevistador: Uma questão que se destaca bastante nas produções da senhora é o amplo uso das fontes orais. Poderia falar um pouco sobre sua experiência com a realização das entrevistas e comentar também sobre o papel da História Oral em sua trajetória?

Maria Moraes: A metodologia da história oral, eu vou considerar assim: a história oral como metodologia, embora eu saiba que existe toda uma discussão sobre, mas eu considero como uma metodologia. Uma metodologia muito rica, porque ela permite você conhecer muitos aspectos da realidade social, isto é, não somente por meio de textos já produzidos, da bibliografia e da teoria que nós utilizamos, como também dos aportes que as pessoas têm, essas experiências, essas vivências. Eu considero uma metodologia indispensável, em vários sentidos.

Desde o início, desde a feitura da dissertação e da tese, eu já vinha realizando entrevistas e, naquele momento, nem havia gravador, eu não tinha nem gravador, eu conversava com as pessoas e, a partir do que elas me diziam, eu ia anotando, depois foi o gravador, a fita cassete, gravador digital, tablet, celular. Durante todo esse tempo, ao longo de mais de quatro décadas, eu fui realizando pesquisas e entrevistas e acumulando um acervo muito grande de entrevistas, de fotografias e outros documentos. Fotos que foram tiradas no decorrer das pesquisas, como também fotos que foram doadas pelos próprios entrevistados; foram produzidos ainda alguns vídeos, alguns documentários a respeito das diferentes realidades. O primeiro deles foi em 1990 ou 1991, é um trabalho bem pioneiro, que tem o título “As andorinhas nem lá nem cá”, produzido com slides.[3] Nós montamos os slides para fazer o documentário, composto de um áudio, com as vozes de narradores não necessariamente dos(as) entrevistados(as), e também com um fundo musical. Naquele momento, eu utilizei muitas passagens de Guimarães Rosa, porque era um tema relacionado à migração permanentemente temporária, ao sertão e aos sertanejos em suas travessias. Eu perguntei a uma trabalhadora, uma camponesa do Vale do Jequitinhonha, como ela se sentia depois de 15 anos migrando, indo e vindo para essa região, para o corte da cana, e depois voltando, e ela me respondeu: “eu me sinto como uma andorinha, nem lá e nem cá”, então, esse foi o título do documentário. Realmente mostrando como era a situação de vida dessas pessoas lá, e aí, naquele momento, já destacando a presença feminina, o trabalho das mulheres na roça, no tear, na produção de objetos de argila, até mulheres garimpando, na feira, várias situações, Foi possível percorrer assim esse universo por onde elas transitavam através da imagem e depois a vinda para São Paulo e o que acontecia aqui, tanto no café quanto na cana.

A história oral me permitiu criar o acervo com centenas e centenas de testemunhos de homens, mulheres e crianças, como também me permitiu a criatividade em campo. Porque eu tive sempre uma preocupação de não apenas reproduzir manuais, na verdade eu detesto manuais [risos]. O campo, ele precisa ser realmente uma espécie de laboratório e não simplesmente a aplicação de fórmulas ou, então, determinados conteúdos prontos. Eu diria que é no laboratório onde você cria, o campo lhe permite exatamente essa criatividade e essa capacidade de reflexão. A produção de imagens, de desenhos tanto das pessoas adultas como das crianças, organização de oficinas, de pequenos grupos tanto de mulheres quanto de homens e mulheres sobre determinados temas, enfim.

A história oral me permitiu o alargamento da minha visão, quer dizer, eu nunca tive um olhar tão somente dirigido e fechado para um determinado ponto, pelo contrário, a história oral me permitiu exatamente essa abertura e me deu essa liberdade para criar. Foi assim que eu me embrenhei muito na história oral, eu me considero bastante feliz por ter tido essa oportunidade e ter trilhado esse caminho nas minhas pesquisas, e depois também oferecendo cursos, como esse último que você teve a possibilidade de seguir[4] e, assim por diante.

 

Entrevistador: Ainda sobre as fontes orais e em especial sobre o acervo que a senhora construiu ao longo destas décadas, gostaria que a senhora falasse um pouco sobre o repositório digital “Vozes e Memórias”, como surgiu a ideia da sua realização?

Maria Moraes: Olha, é assim, eu não tinha essa ideia planejada, preconcebida, as coisas foram acontecendo ao longo desses anos todos, desse tempo todo, só que eu tenho mania de guardar as coisas, bom você esteve aqui no meu escritório [risos], você viu a quantidade de coisas que eu tenho guardadas aqui [risos]. Eu não consigo ficar jogando fora, me desfazendo de tudo. Para mim, tudo é muito importante e eu guardo. Eu tenho pastas e pastas de recortes de jornais, mas aí você pensa ‘hoje está tudo digitalizado’ [risos], eu até imagino que sim, mas se eu precisar deles, desses recortes, eles estão aqui. O que eu quero dizer é que eu sou de um outro tempo, eu diria, então acredito que isso também tem que ser datado, mas nada disso foi planejado, eu fui juntando esse material, guardando, no caso das fitas de videocassete, fui organizando essas fitas, colocando-as em caixas, etiquetando; por exemplo, a pesquisa tal está na caixa tal, ali eu encontro tudo e, assim, por diante.

Chegou em um determinado ponto que eu comecei a perceber que tinha que fazer alguma coisa com aquele material, não era somente pensar nos artigos que foram escritos, nos trabalhos, nos livros etc. Afirmo que o mais importante talvez, ou tão importante quanto os trabalhos escritos, são as vozes daquelas pessoas que estavam ali. Comecei a pensar exatamente num repositório digital que tivesse esse perfil, essa configuração, ou seja, que não fosse a transcrição das fitas, porque eu tenho todas essas fitas transcritas, mas que fossem as vozes que precisavam sair das caixas. Isso porque houve, a partir de 2009, o que denomino de grande transformação. A partir de 2009/2010, vamos observar cada vez mais a intensificação do processo de mecanização, até chegarmos hoje com a chamada agricultura 4.0, e essa agricultura 4.0 é caracterizada pelo emprego das grandes máquinas e pelo domínio e controle das Tecnologias de Informação (TIs). Segundo os dados da Conab, no período de 2008 até agora houve uma grande transformação. Por exemplo, em 2008, você tinha 70% da cana sendo cortada manualmente, hoje você tem 99% cortada mecanicamente, então você tem apenas 1%, ou menos até, da cana sendo cortada manualmente e, em 2008, você tinha 70%. Então, você consegue perceber que foi uma transformação muito, muito rápida.[5] Isso significa o quê? Significa que você não tem mais a presença desse cortador de cana tal qual você tinha nesses anos todos. Durante mais de seis décadas esses trabalhadores cortaram cana em São Paulo, isso praticamente desapareceu, o cenário é outro, o perfil de trabalhador é outro e, consequentemente, essas migrações também não existem da forma como elas vinham existindo. Os alojamentos dos trabalhadores foram demolidos, as casas de aluguel nas cidades também foram demolidas, os sindicatos praticamente perderam a sua função, a Pastoral do Migrante, que existia em Guariba, deixou de existir, enfim, a transformação foi brutal, brutal. 

Em razão de tudo isso, a pergunta que, cada vez mais, ou melhor dizendo, a constatação que tinha era a seguinte: além do desaparecimento e da invisibilidade desses trabalhadores, o que eu estava assistindo era um verdadeiro memoricídio, uma memória coletiva que estava sendo cada vez mais apagada e, hoje, o que as pessoas veem são as máquinas, essas máquinas têm uma visibilidade muito grande nas feiras, você conhece a região, você sabe muito bem disso.[6] Ademais, o trabalhador cortador de cana praticamente desapareceu; as pessoas não sabem que esse trabalhador existiu porque o que se vê é, de um lado, os grandes números da produção e da produtividade e, de outro lado, as máquinas e o poder que elas têm. Uma colheitadeira de cana corta, em geral, em média 160 toneladas/hora, enquanto um trabalhador conseguia, em média, cortar entre 10 a 15 toneladas/dia. Daí você pode calcular quantos trabalhadores uma máquina foi capaz de substituir.

Diante da amnésia histórica, do apagamento da história, do memoricídio, eu fui, paulatinamente, sendo afetada. Uma questão que prezo muito é a política, não no sentido de um dado partidarismo, não estou pensando em um partido político, mas na minha práxis, como fazer sociologia, que não é somente uma sociologia voltada para produzir artigos ou livros, ou seja, não é somente destinada à produção acadêmica, mas é uma sociologia que tem esse lado, que eu prezo muito, a práxis; uma preocupação que sempre tenho, é a seguinte: ‘para que serve tudo isso? Para que serve a pesquisa que eu faço? Para que serve o livro que eu publico? Para que serve a palestra que eu profiro?’ e assim por diante. Todas essas questões foram se avolumando e eu, cada vez mais, fui sendo, eu diria assim, quase que cobrada, a impressão que tenho é a de que havia uma cobrança, não era só de uma pessoa, mas desse conjunto de trabalhadores e trabalhadoras, camponeses e camponesas, que eu entrevistei nesses 40 anos. E agora o que você vai fazer? Você vai jogar essas fitas fora? O que você vai fazer com tudo isso?

Assim, comecei a pensar na feitura de um repositório, comecei a conversar com o pessoal da computação que me deu muitas sugestões de como fazer, de como operar etc., até que finalmente deu certo, foi muito tempo, foram uns quatro anos gestando, foi um longo processo, muito demorado essa gestação, não acabava nunca [risos]. O como fazer, o como resolver, e depois você vai mexendo em todo aquele material, vai revendo, revivendo; é a mesma coisa que mexer em um baú, você tira tudo dali, fui trazendo para a superfície estas vozes escondidas. Se há o memoricídio, se há a amnésia histórica, o repositório tem principalmente esse sentido contrário: ouvir as vozes dessas pessoas que sempre tiveram vozes, não é que eu estou dando voz a elas, elas sempre tiveram vozes, a questão é que elas não eram escutadas. E ali elas podem ser escutadas, qualquer pessoa interessada pode ouvir aquelas histórias todas. Então não sou eu contando, são as pessoas relatando aquilo que elas vivenciaram nos canaviais, cafezais, laranjais aqui de São Paulo. São suas vivências e experiências que estão ali guardadas.

Foi essa cobrança, entre aspas, que eu sentia. É como se fosse uma promessa que eu precisava cumprir. Eu tinha que cumprir aquela promessa.

Esse foi um período bastante demorado, catalogamos todas as fitas e, em seguida, sob orientação de Leandro d’Agostino, o profissional da área da computação, foi possível fazer a digitalização e a organização final. Nós fizemos uma organização seguindo as pesquisas, cronologicamente. Começa lá atrás e chega até agora. Cada pesquisa possui resumo em português, espanhol, francês e inglês, além dos áudios das pessoas entrevistadas e os financiadores.

Uma preocupação, que deu muito trabalho, foi a de retirar os nomes das pessoas, isso para proteger suas identidades; muitas dessas pessoas já morreram, já não estão mais nesse mundo nosso; por outro lado, muitas delas têm filhos, netos e/ou parentes que estão trabalhando nas usinas em outras funções. Pensando justamente nessa possibilidade de qualquer interferência por parte das empresas, optamos por não colocar o nome das pessoas, nós temos ali as vozes, os testemunhos delas. O repositório tem essa função, evitar o apagamento da memória desses(as) trabalhadores(as), suas histórias, suas experiências laborais.

Esta é a contribuição que eu pude dar, o retorno que eu pude dar. A promessa cumprida.

 

Entrevistador: A senhora comentou sobre essa agricultura 4.0 e me fez recordar do projeto “Nas franjas do progresso”, que a senhora atuou com o Professor Rodrigo Martins. A senhora poderia falar um pouco mais a respeito, em especial sobre a figura da mulher nesta agricultura 4.0?

Maria Moraes: Nesta pesquisa, as entrevistas foram realizadas no começo deste ano [2023] e essas entrevistas não fazem parte ainda do repositório. Vou deixar passar um pouquinho de tempo para depois colocá-las, eu não consegui ainda publicar nenhum texto sobre isso. Eu tenho participado de vários eventos aqui no Brasil e no exterior, recentemente participei de um no Uruguai e, na semana passada, de um evento na Espanha, na Universidad de Murcia, e as pessoas realmente estão buscando entender o que seria essa agricultura 4.0. Isso foi possível também dentro desse processo que eu apresentei, processo que praticamente fui acompanhando [risos], eu acompanhei essas mudanças e transformações e, finalmente, cheguei nesse ponto, nessa chamada agricultura 4.0, que eu não tinha ideia do que fosse isso. Fui atrás de bibliografia acerca da agricultura 4.0, a gente aqui no Brasil não tem muita coisa, porque essa ideia surgiu na Alemanha e depois passou para os Estado Unidos, Brasil e também para o México; é uma bibliografia bem restrita, mas, sobretudo, a definição dela é essa associação entre a tecnologia bastante desenvolvida e as Tecnologias de Informação (TIs), presença de satélites, GPS, drones; há uma tendência muito grande em fazer uma digitalização da agricultura em todos os sentidos. Esta é uma questão, a outra questão, para mim, que analisei nesse projeto de pesquisa com Rodrigo, foi exatamente verificar, por meio da história oral, como esses trabalhadores e trabalhadoras estavam sentindo esse processo, quer dizer, o que significa para o trabalhador e para a trabalhadora estarem inseridos nesse processo de mudança. Eu tenho a compreensão do que significa a agricultura 4.0, mas o que eu não tinha e o que ainda estou estudando, é o como os trabalhadores lidam com tudo isso.

Foram muitas surpresas até, pelo menos pra mim. Primeiro, porque a transformação é total, você não tem mais aquele trabalho do corte da cana do trabalhador manual, aquele trabalho sofrido, aquele trabalho sujo, aquele trabalho que poderia levar o trabalhador à morte por exaustão, entendeu? Era isso que você tinha, aquele trabalhador que, segundo o feitor, tinha que estar sempre em movimento. Uma frase recorrente dos feitores era: ‘mexam o corpo’. O trabalhador andava em torno de oito quilômetros por dia cortando a cana, carregando a cana, jogando a cana em um monte e voltando para pegar outra fileira, outra rua, e assim por diante. Durante o tempo todo, ele estava em pé, se movimentando. Agora não, de longe, você o enxergava, agora não, você não enxerga o trabalhador, você enxerga uma máquina, grandes máquinas, poderosas, caríssimas. E no caso do corte da cana você tem, para essa atividade do corte mecânico, a necessidade de duas máquinas, você tem aquela que corta e o trator com a caçamba que recebe essa cana cortada.

Bom, então eu procurei esses trabalhadores, tanto os da colheitadeira como os trabalhadores dos tratores, que eles chamam de transbordo, o dos tratores, porque eles levam, eles transportam a cana cortada para um lugar e a depositam nos caminhões que, por sua vez,  a transporta até a usina, portanto, é todo um processo contínuo, é uma coisa que roda sem parar.

Primeiro, foi muito difícil encontrar pessoas dispostas a falar sobre isso, até mesmo uma sindicalista da região, que sempre foi muito comprometida com os trabalhadores, ela tinha dificuldade em me falar porque ela mesma não entendia o processo. Aí ela me indicou alguns trabalhadores, apenas um deles me deu entrevista. Eu encontrei muitas recusas, essas recusas derivadas do medo, do medo de falar, medo de se expor, medo de perder o emprego; esse foi um ponto, uma dificuldade que precisou realmente de um tempo para ser contornada.

Porém, consegui por meio de contatos familiares, eu tenho uma rede familiar ainda com um pé na agricultura, e foi graças a essa rede que consegui, se não fosse essa rede não teria conseguido. Aí foi possível entrevistar o pessoal da colheitadeira, dos caminhões, das carretas e também dos tratores, o chamado transbordo, e foi aí que encontrei também as mulheres, as mulheres presentes, a chamada ‘energia feminina’ [risos], foi impressionante ver isso na internet: ‘energia feminina’, ‘contratam-se mulheres para carreta’. Imagine 120 toneladas de cana, uma mulher dirigindo esses caminhões, 120 toneladas de cana, mulheres para tratores e para colheitadeiras, impressionante! Veja bem, eu vi as mulheres desde meados dos anos 1970, depois deixei de vê-las, porque o processo as alijou e, agora, de novo essas mulheres estão no campo. E aí foi possível entrevistar algumas tratoristas. Uma delas operava o trator cor-de-rosa, imagine, uma empresa multinacional pinta o trator de rosa, então, veja bem o significado de tudo isso, o simbólico de tudo isso. As entrevistas com elas foram muito ricas, muito, muito ricas, porque foi possível aprofundar e chegar até essa questão que estou estudando agora, até o começo do ano [2024] eu espero conseguir elaborar melhor tudo isso, analisar e interpretar melhor tudo isso. Mas eu vejo que a mudança chega a esse ponto: você tem uma nova ontologia do ser que trabalha nos canaviais, não é mais a mesma coisa, é um trabalhador que lida com essas máquinas que sabe operar essas máquinas e que entende de computação, de internet, que sabe realizar aquele trabalho e que não é só olhar o computador. São dois computadores no trator e na colheitadeira, porque um deles controla tudo o que está acontecendo no ambiente de trabalho. E o outro computador está conectado à central da usina; logo, a central da usina está vendo tudo que está acontecendo ali, ela controla tudo, tudo, tudo. Por exemplo, se tem lá um trator que está deixando cair muita cana fora da caçamba, eles sabem disso, eles sabem disso e isso vai dar um problema para aquele tratorista, para aquele ou aquela operadora de trator. É algo assustador, quando você pensa nessa Tecnologia da Informação, na pressão, no controle e na intensidade dessa exploração, além de ser um trabalho exercido durante 24 horas por dia, que é outra grande transformação. Antes, o corte da cana era realizado durante o dia, o transporte poderia ser em outros horários, mas o corte era só durante o dia, agora você tem essas máquinas operando 24 horas por dia, essa é outra questão.        

Mudanças também na própria organização, enfim. Mas o que mais me chamou a atenção, foi a mudança na subjetividade dos(as) trabalhadores(as). Por exemplo, os sindicatos perderam a função política, outra transformação é que praticamente o conflito capital-trabalho também foi bastante diminuído, não que ele tenha desaparecido, mas a tecnologia da informação praticamente fez com que isso arrefecesse muito. O trabalhador se transformou em colaborador. O trabalhador rural é aquele que lida com veneno, aquele que carpe, aquele que vai participar de alguma atividade complementar no plantio da cana, esses sim, esses são trabalhadores rurais, aqueles que estão lá embaixo, diferentes do operador, do colaborador. É outra subjetividade que foi sendo gestada. Se há algum problema, este é um tema a ser resolvido entre o trabalhador e a empresa, sem a presença do sindicato. É um trabalho individualizado, porque cada um tem a sua máquina, é assim. Isso tudo tem me dado bastante dor de cabeça [risos], e não é mais o trabalhador negro e pardo, é o branco que está ali, e quem está distribuindo veneno, arrancando colonião é o negro.

Essa discussão eu tenho comentado nos eventos tanto aqui quanto alhures, e os colegas têm dito que isso é alienação, mas eu vejo que não é só isso, não. É mais que isso. Esse é o momento em que eu estou.

 

Entrevistador: Obrigado, professora. Por fim, a senhora gostaria de abordar mais algum tema?

Maria Moraes: Eu imagino que é tanta coisa que a gente poderia falar, por exemplo, às vezes eu fico muito angustiada. Eu diria que estou passando por um momento de angústia, angústia intelectual. Eu fico pensando nos destinos da Sociologia em um país e no mundo em que estamos vivendo. Por mais que você faça, parece que você não tem forças para mudar a ordem das coisas, entende? É claro, a gente aprende e a gente ensina que quem faz a história são as pessoas, não é o capital que faz, são as pessoas que fazem a história, a agência dessas pessoas, a ação social dessas pessoas, mas o que eu vejo é que essas forças do capital são tão fortes, tão grandes, que estão passando em cima de nós como um verdadeiro rolo compressor. Por exemplo, nós sabemos dos problemas, nós adiantamos as consequências dos diversos problemas, mas a impressão que tenho é que nós não conseguimos ser ouvidos, entende? É isso, e isso me traz uma certa angústia, e especificamente o tema do trabalhador rural é um tema marginal. Eu estou falando do meu campo de estudos, que é a Sociologia. Se você for pensar na Sociologia Rural, o trabalho, o trabalhador é um subtema, é praticamente nulo, ele quase não existe, são pouquíssimas pessoas que estão preocupadas com essa questão. Curiosamente, você tem o país do agronegócio, esse PIB, essa economia, tudo que se fala é o agro e, por outro lado, não temos uma reflexão sobre quem produz tudo isso, que é o trabalhador. Isso tem me deixado bastante angustiada. Quando eu falo, as pessoas se interessam, mas não passa disso.

 

 

Como citar

SILVA, Maria Aparecida de Moraes. Na contramão do memoricídio, ‘Vozes e Memórias’ de vidas talhadas com as mãos: entrevista com Maria Aparecida de Moraes Silva. [Entevista cedida a] Bruno César Pereira. Estudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, v. 32, n. 1, e2432103, 16 maio 2024.

 

 

 

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[1] Doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). E-mail: pereirabcesar96@gmail.com.    

[2] Disponível em: https://www.vozesememorias.com.br/.

[3] Documentário disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TGYAr8M37Zs.

[4] Maria refere-se à disciplina História oral: uma visão interdisciplinar, ofertada no segundo semestre de 2023 aos discentes do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos (PPGS/UFSCar).

[5] Para melhor visualização de alguns gráficos mencionados pela entrevistada, sugerimos a leitura: SILVA, Maria Aparecida de Moraes; REIS, Tainá. Em busca de um lugar de memória de trabalhadores(as) rurais. Constituição de um repositório digital em dois espaços-tempos. Travessia, n. 89, 2020, p. 7-26.

[6] Entre as feiras, podemos citar a famosa Agrishow, realizada na cidade de Ribeirão Preto. A feira é palco dos lançamentos das principais tendências e inovações para o agronegócio brasileiro. Somente no ano de 2023, a feira contou com mais de 800 marcas expositoras e mais de 195 mil visitantes, além de fechar um total de R$ 13,290 bilhões em negócios.